Na última news eu falei que uma das melhores coisas de ser adulta era poder dizer “não”. Mas como a vida tem um senso de humor divertidíssimo e com certeza leu minha última edição, hoje vamos falar de algumas coisas ruins de ser adulta.
olhando pro céu (e pensando em um monte de coisas) ☁️
O que faz você se sentir adulto? Sabe, tô falando daqueles momentos em que olhamos ao redor e pensamos “caramba, eu sou a pessoa que eu observava quando era criança”. Eu tenho esses momentos com uma frequência considerável.
Por exemplo, quando eu preciso ir no cartório, às vezes quando vou abastecer o carro, quando eu comprei um carro novo então, putz, foi uma loucura. O mais recente desses momentos foi quando eu saí do escritório onde trabalho para ir visitar meu pai no hospital.
Meu pai tá bem, gente, provavelmente está lendo esse texto. Mas vou falar pra vocês, foi uma experiência surreal. Foi estranho até falar para as pessoas porque eu estava me ausentando no meio do expediente. Ao invés de falar com preocupação, tenho certeza que disse, com a entonação de pergunta: “Meu pai tá no hospital?????”. Fiquei tão desconcentrada com essa frase dita em voz alta que não consegui trabalhar direito enquanto não fui vê-lo.
Fui até o hospital relembrando quantas vezes eu, quando criança, acompanhei a minha mãe para visitar meu avô. E aí o pensamento me atingiu: eu sou a pessoa que observava quando era criança. Só que eu não fazia a menor ideia do que deveria fazer. Um mesmo hospital tinha um bilhão de portarias. E eu ficava lembrando nitidamente de entrar no hospital com minha mãe, e ela saber exatamente onde ir e o que fazer, provavelmente porque já tinha feito aquilo incontáveis vezes.
Ao ter esses momentos de perceber que sou adulta, um monte de coisinhas se desfazem na minha cabeça, como por exemplo, aquela ideia de que os adultos sabem o que estão fazendo. Sei que muita gente quando tem esses momentos se sente meio mal, com o sentimento de que deveria saber o que fazer. Mas eu sempre vou pelo outro lado, e penso que na realidade ninguém sabe o que tá fazendo. E dessa percepção se desdobra muita coisa.
A primeira delas, na minha opinião, é que a gente passa a ver nossos pais, avós e tios com outro olhar. Eu me pergunto o tempo inteiro “será que minha mãe ficava tão perdida quanto eu em situações desse tipo?”. Eles descem do pedestal, e não porque fizeram alguma coisa errada, mas porque percebemos que eles são tão imperfeitos e estão em construção como nós.
Além disso, eu começo a perceber que nós adultos não somos lá tão diferentes dos adolescentes. A principal diferença talvez seja que eles têm passe livre para não saber de tudo, não saber onde querem chegar ou o que querem ser, e a gente não. Alguém inventou que os adultos, seja lá qual seja a idade definida pela sociedade ou cultura, têm que ter a vida resolvida, ou saber resolvê-la. É o tal do checklist de novo.
Se você procurar no dicionário a definição de adulto, vai encontrar algo assim:
“que atingiu o máximo do seu crescimento e a plenitude das suas funções biológicas.”
“que terminou sua adolescência.”
“que ou quem já está em idade compreendida entre a adolescência e a velhice.”
Em lugar nenhum tem escrito “ser que possui respostas e tem capacidade de realização e resolução de metas de vidas definidas por outrem.”
E quando eu começo a pensar nisso a coisa se torna cômica, porque eu não conheço um adulto sequer que saiba de tudo, ou que tenha certeza o tempo todo do que quer da vida. Tá todo mundo mudando o tempo todo.
Entramos na faculdade x, mas passamos a trabalhar com y, e depois de alguns anos queremos revirar tudo e ir trabalhar com z. Achávamos que não gostávamos de uma coisa, mas agora gostamos, ou vice-versa. Gostamos do cabelo longo, depois queremos curto, depois queremos longo de novo. Temos fases que queremos fazer exercício físico à beça, e de repente enche o saco. Queremos comprar um apartamento, adotar um gato, mas qual é a garantia de que, mais tarde na vida, não vamos querer mudar de lá, alugar um motorhome e viajar por aí?
E se lendo essa news a gente entende, aceita e apoia todas essas realidades listadas acima, porque no mundo real ficamos presos no que temos que conquistar ou não até uma linha de chegada imaginária? Se racionalmente a gente sabe que o caminho de cada um é único, e muda o tempo todo, porque a gente continua caindo na armadilha de seguir o caminho que traçaram de giz, para nós? A gente devia apagar esse traçado, sério.
Cada dia que passa eu percebo mais que nós, os adultos, não temos resposta de tudo. E depois de visitar meu pai no hospital eu percebi que quanto mais tempo passar, menos respostas eu vou ter. Porque as incertezas só aumentam. As responsabilidades vão crescendo, o mundo vai mudando, as pessoas vão indo embora, e dificilmente eu vou saber lidar com tudo isso. Mas eu vou fingir que sei, e provavelmente meu sobrinho vai olhar para mim e ter a segurança de que eu tô no controle da coisa. Fico com pesar só de pensar que, um dia, talvez, ele visite alguém no hospital e descubra que era tudo uma farsa.
o que floriu por aqui 🌼
O que aconteceu de bom ou de novo aqui no meu quintal.
Minha rotina nova com o trabalho híbrido parece, finalmente, estar se ajeitando. Tô conseguindo, pelo menos na maioria dos dias, fazer tudo que me propus a fazer. Não se engane, tem um monte de projetos ficando para trás porque o dia não tem horas suficientes, mas um passo de cada vez, né?
o que secou por aqui 🥀
Eu sou zero a favor da ideia de vida perfeita que muitas vezes temos na internet. Então essa seção é para falar de coisas não tão floridas que aconteceram, pois afinal de contas elas também fazem parte da vida, né?
Essas últimas semanas foram punk. No mínimo. Como vocês já sabem, meu pai ficou um tempo no hospital, mas além dele outra pessoa querida também ficou internada um tempo. Fico feliz demais de ter que voltar nesse trecho que escrevi a alguns dias e trocar a informação para dizer que ambos já estão em casa, mas ainda sob cuidados.
e o sol já vai se pondo 🌄
Espero que vocês tenham se sentido abraçados por essa news de alguma forma. A real é que tá todo mundo perdido, mas fingindo que tem controle sobre as coisas.
Desejo um bom carnaval para vocês, seja para farrear ou descansar. Como sempre, eu vou amar se você me contar nos comentários o que achou dessa edição.
E ah, indica essa newsletter para algum amigo/a/e também.
Nos vemos daqui a quinze dias!
sobre mim
Para continuar lendo…
Acho que a vida adulta põe a gente num lugar de compreender e enaltecer a força dos nossos mais velhos, dos nossos ancestrais. Me peguei numa pira recente (quase com inferno astral), que eu seria em breve o que eu fui nesses 27 anos ou daqui a 10 anos eu estaria totalmente diferente?!?!, me pego sempre pensando, em carreira, família, status, grana etc.. Mas a piração dessa vez foi, qual tipo de adulto eu vou conseguir ser?
Escuto muitas histórias que meu pai era idêntico ao que sou hoje, e com o tempo foi se perdendo principalmente por questões de estrutura emocional e financeira, e me peguei pensando, cara, eu sempre odiei isso tudo, nunca vou ser igual, e com 27 eu tenho certeza que alguns hábitos vão me levar a reproduzir tudo aquilo que eu critiquei.
A reforma íntima começa ainda nesses primeiros contatos com a vida Adulta, que a gente para e pensa, pô.. É justificável ele ter feito isso, realmente era uma limitação, ele não estava bem.. Acho que isso da a brecha pra gente se perdoar , se amar, e perdoar as limitações dos nossos ancestrais.
Seu texto mais uma vez, cirúrgico e com uma carga emocional gigantesca. Você é uma semente, que continue crescendo e levando esse abraço e sentimento pra todes. Grande abraço, e aguardando ansiosamente seu próximo quintal!
Clarinha, eu despretensiosamente abri o e-mail enquanto almoço miojo com coca (pq também não consigo fazer tudo que me propus) e me deparo com sua news.
Ser adulto é um trem difícil mesmo. Esses últimos tempos me peguei pensando “meu deus eu sou adulta? Quais as atitudes de um adulto? O que me faz ser mais ou menos adulto?”
Tem hora que vejo o pessoal no trabalho, 10 ou 12 anos mais velhos que eu e penso “poxa, eu já tou aqui!” E tem hora que fico igual a Amalia de 19 anos.
Esses dias li no Instagram que uma hora a ficha cai e você começa a olhar seus pais com mais carinho, cuidado e atenção. A gente vê que eles estão envelhecendo e não são mais aquela força toda que achamos no passado. Isso me deu muito o que pensar.
Enfim, continue florescendo amiga minha. Você é um misto de criança e adulto de uma forma tão linda. Te amo!