Eu juro que vai dar pra linkar os dois tópicos do título, confia. Mas antes de entrar na reflexão em si, vou falar um pouco sobre algumas experiências pessoais, então tenha paciência comigo.
olhando pro céu (e pensando em um monte de coisas) ☁️
Lembro que saí da faculdade com um sentimento que nunca tinha sentido na vida: liberdade de escolha. De repente, o roteiro que fizeram para minha vida ficou vago demais. Eu tinha terminado a escola, fui para a faculdade, terminei o curso, fiz estágios... Não tinha mais ninguém me falando para onde ir. E talvez aconteça em fases diferentes para cada um de nós, mas para mim, foi no fim da graduação quando eu finalmente me senti livre para fazer tudo que eu queria fazer. Aquelas coisinhas que eu nunca tive tempo porque tinha mil trabalhos da faculdade, ou que minha mãe nunca teve dinheiro para me proporcionar.
Mas se eu saí da faculdade com esse sentimento, foi porque durante meu curso eu andei em círculos sem saber o que queria da vida. Só que no meu último ano como universitária eu tive uma experiência que mudou meu olhar sobre as coisas: um estágio que eu detestava.
Era um estágio em edição de vídeo, com uma supervisora que eu adorava (e adoro até hoje), mas meu colega de trabalho não era tão legal assim (para não usar palavras mais fortes). Além disso, a empresa em si não tinha nada a ver comigo. Eu trabalhava em um escritório minúsculo, sem janelas, com um ar condicionado no talo e, muitas vezes, ficava dias sem ter o que fazer. Eu odiava cada minuto. Lembro que tinha dias que, quando eu saía pelo portão da empresa para ir embora, era como se tivessem tirado uma tonelada das minhas costas.
O período deste estágio me deixou até insegura com meu próprio trabalho, mas como tudo nessa vida nos ensina alguma coisa, essa experiência não foi diferente. Eu aprendi o que não queria para minha vida nunca mais.
Primeiramente, vamos deixar claro que eu sei que tenho todos os privilégios possíveis para poder sequer considerar o que vou listar abaixo, mas aqui estão algumas coisas que até hoje eu não quero, descobertas nesse estágio frustrado:
Não quero trabalhar em um escritório sem janelas
Não quero trabalhar em uma empresa de algo que eu não concordo
Não quero aturar colegas de trabalho que me diminuam ou me façam sentir incapaz
Não quero trabalhar em um lugar que me dá vontade de chorar antes de começar o expediente
Pode parecer bobagem, mas para quem não via caminho nenhum para seguir, essas revelações foram uma luz no fim do túnel. Porque, acredite, tão importante quanto saber o que você quer, é saber o que você não quer. E acho que só descobrimos o que não queremos de verdade quando temos experiências ruins, se não somos só crianças que dizem que não gostam de brócolis sem nunca ter comido brócolis. Ou adultos que dizem que não gostam de pizza de abacaxi sem ter comido pizza de abacaxi (a pizza de abacaxi é uma referência a esse texto aqui, que inclusive me ajudou na época desse estágio.).
Eu sei que é impossível controlar todos esses “não quero’s”, e não acho que temos que sair pela vida andando de nariz em pé dizendo não para as oportunidades porque “não queremos”, afinal de contas o que queremos ou não pode mudar. Mas ter em mente essas coisas nos ajuda a não entrar em situações que poderiam ser evitadas. Tem hora que não temos muito poder de escolha, mas se eu tenho poder de escolha, é melhor usá-lo com honestidade. Se eu sei que eu não aguento, que não quero, porque vou me submeter a isso? Ou: o motivo pelo qual vou aceitar algo que não quero, vale a pena? Porque às vezes vale, sabe? Mas às vezes não.
Se você vai topar fazer algo que você não quer por alguém que ama, talvez faça sentido. Mas se você vai fazer porque ~alguém~ te disse que você tem que fazer… Pegou a diferença?
E estamos falando de trabalho, mas esse tema vai muito além disso. Nossos relacionamentos nos ensinam diariamente o que topamos ou não, nosso corpo nos dá o grito quando o emocional não aguenta mais. Mas se não estamos com o olhar atento para o que a vida está tentando nos ensinar, talvez sigamos até a morte fazendo o que não queremos e nos sentindo mal com isso, sem nunca perceber que ali não é nosso lugar.
Cada um de nós tem os próprios limites, e só nós mesmos sabemos qual é o nosso. Cada um tem as próprias condições para descer pro play, mas se não soubermos quais são e não lutarmos por elas, vamos acabar jogando um jogo que a gente detesta com pessoas que odiamos.
Saber o que queremos nem sempre é fácil, e defender o que queremos é ainda mais difícil. Mas se o que queremos é a montanha no fim da estrada, o que não queremos é o limite da rodovia.

Às vezes eu sinto que a gente tá na onda das tartarugas em Nemo, só seguindo o fluxo, sem saber a hora de sair dela e seguir o próprio caminho. É muito mais simples, realmente, seguir o fluxo da geração e ir completando o checklist da vida adulta que criaram pra gente. Mas olha, uma das melhores partes da vida adulta para mim tem sido o poder de dizer ‘não’ para o que eu não quero. Se você ainda não começou a fazer isso, dê uma chance. É revolucionário.
o que floriu por aqui 🌼
O que aconteceu de bom ou de novo aqui no meu quintal.
Tive um encontro de milhões (como dizem na internet) com algumas amigas queridíssimas (tô ficando repetitiva com o assunto de amizade?). Teve bebês, cachorros, bolo de cenoura com chocolate e o melhor que há de amizade. O photo dump desse dia tá no meu instagram.
Dei mais alguns passos importantes e especiais para realizar alguns sonhos (que por enquanto ainda ficam em segredo).
o que secou por aqui 🥀
Eu sou zero a favor da ideia de vida perfeita que muitas vezes temos na internet. Então essa seção é para falar de coisas não tão floridas que aconteceram, pois afinal de contas elas também fazem parte da vida, né?
A vida adulta não é só dizer não para o que não queremos e se deliciar com o bebê da nossa amiga. Às vezes é trabalhar até tarde em plena sexta feira, não ter tempo de fazer as coisas que quer, ver alguém que você ama doente ou chateado e não poder ajudar, ou ir na academia porque você sabe que precisa, não porque quer.
e o sol já vai se pondo 🌄
Você piscou e o primeiro mês do ano acabou. Esse foi um mês de encontrar muuuuitos amigos, e eu amo saber o que eles estão achando da news, mas vou amar ainda mais se você me contar nos comentários o que achou dessa edição.
Se você quiser reler esse texto ou ler outras edições, lá no substack tem o arquivo de tudo que eu publico.
Nos vemos daqui a quinze dias!
Acho muito que o processo da aprendizagem os nãos, as falhas, tudo que soa como negativo ou negativa tende a mostrar pra gente algo próximo do limite, mas acho que vai além ainda, o não querer é uma forma de demonstrar o que você é. E muitas vezes somos um conjunto de não vontades. Lindo texto, to apaixonada.
Claritcha,
Você tocou num ponto importantíssimo que me pegou outros dias pra trás... Aprender o que a gente NÃO quer é tão importante quanto o que a gente quer.
E dizer não para o checklist da sociedade é sensacional!!!!!!!!!!!!