meu quintal #27: mãe

um texto que sempre quis escrever

dez 04, 2023

Já tem um tempo que eu queria escrever algo sobre minha mãe aqui, mas sempre que eu começo, largo o texto no meio tomada pelo choro. Hoje eu vou tentar mais uma vez.

Constantemente eu me pergunto onde estará guardado o plot twist da minha vida. Para quem não sabe, plot twist é aquela virada na história que acontece em filmes, séries ou livros. Um acontecimento que ninguém viu chegando e vira a história do avesso.

Eu observo e acompanho a vida dos meus amigos, e consigo ver de longe que sempre tem uma fase ou um momento especialmente difícil que eles têm que superar. Quase sempre tem algo pesado que acontece, que sacode essas pessoas e dificulta que elas encontrem o caminho de volta para si mesmas. Mas aqui do meu lado… Tá tudo bem tranquilo até agora.

Nada fatídico me aconteceu ainda, o que é ok, afinal eu só tenho 26 anos. Mas essa condição de observadora me deixou um pouco alerta: fico tentando adivinhar qual é o acontecimento que vai me dar uma rasteira e virar meu mundo do avesso. E eu tenho um palpite do que vai ser: a perda da minha mãe.

Acontece que minha mãe sempre esteve aqui. Sempre. Quando meu irmão saiu de casa, ficamos só eu e minha mãe. Quando eu não tinha amiguinhos na escola, eu tinha minha mãe. E quando eu tive amiguinhos na escola, eu também tive minha mãe para fazer festas de aniversário e levar todo mundo pro cinema.

Moro numa casa que minha mãe sonhou, idealizou e realizou. A janela do meu quarto dá pro quintal que ela cuida. A jardineira na minha janela flore porque ela rega. E talvez conforme os anos passem eu me sinta um pouco diferente, mas a ideia de perder minha mãe hoje é como se fossem arrancar uma parte do meu corpo. “Você prefere perder um braço ou perder sua mãe? O braço, pode levar.”

E esse medo que vive na espreita, medo do que o futuro me reserva, me deixou mais e mais apegada. Tenho consciência de cada minuto que passo com ela e sem ela. Dou valor a cada almoço que ela prepara (o choro chegou aqui), memorizo cada conversa, me apego ao sentimento de saber que ela está no cômodo ao lado.

Eu já falei sobre como sempre sentimos falta de algum pedaço do nosso passado, e eu sei que o que eu mais vou sentir falta desse período na minha vida é a certeza da presença da minha mãe. Desta casa que ela construiu, do lar que ela cultivou. Dos cachorros latindo, do cheiro do almoço, dos jardins tão bem cuidados.

Me tranquilizo com a ideia de que ela encontrou um lugar no mundo que a abraçou. Uma casa do jeito que ela sonhou, com os cachorros de companhia, a lagoa perto de casa para caminhar e o espaldar na praça para alongar que, segundo ela, é quase como um altar, posicionado estrategicamente embaixo de uma árvore enorme.

Torço pra que esse meu medo seja precipitado, torço até para que eu esteja errada no final das contas. E torço mais que tudo para que eu ainda tenha muitos anos pra me preparar para esse plot twist, seja ele qual for.

o que floriu por aqui 🌼

O que aconteceu de bom ou de novo aqui no meu quintal.

O show da Taylor Swift em São Paulo. As mensagens que tenho recebido sobre meu livro. Os encontros que a vida arquiteta pra gente. E OS 100 INSCRITOS NESSA NEWSLETTER!!!!!

o que secou por aqui 🥀

Eu sou zero a favor da ideia de vida perfeita que muitas vezes temos na internet. Então essa seção é para falar de coisas não tão floridas que aconteceram, pois afinal de contas elas também fazem parte da vida, né?

Meu corpo mandou a conta de toda a emoção que eu vivi no mês de novembro. Minha imunidade foi lá no pé e, claro, eu adoeci. E minha mãe também, bem no aniversário dela, coitada. Mas adoecer junto fortalece a relação, né? Já estamos as duas medicadas e nos recuperando por aqui…

a propósito, eu sou a Clara

e acontecimentos recentes me provaram, mais uma vez, que a vida sabe exatamente o que tá fazendo, quando tá colocando as coisas na nossa vida e quais encontros vai fazer acontecer ou não. Só nos resta confiar e torcer pelo melhor.

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