meu quintal #31: a vontade da vida
ou de Deus, do universo, dos astros… a nossa é que não é
1. Penso em como queria mudar de cidade para fazer faculdade e como, de repente, decidi ouvir o medo que eu tinha. E aí não quis mais me mudar. Percebo como ali, aos 17 anos, fiz a minha primeira escolha. Minha. De mais ninguém. Escolhi o meu caminho e iria ver onde ele me levaria. Mas aí lembro de como no primeiro ano de faculdade minha mãe operou e precisou tanto de mim em casa, e talvez essa escolha de ficar não tenha sido tão minha assim. Talvez a vida só quis me dar uma falsa sensação de escolha, e o caminho estivesse traçado desde o início.
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2. Tem umas coisas que não dá pra dizer não. Quando uma cachorrinha te segue até em casa depois de uma caminhada e corre para dentro do portão quando você abre a menor fresta, não tem como negá-la água e comida. Quando você descobre que ela está com pontos recentes de castração, não dá pra negá-la abrigo. Quando os pontos se abrem, deixando um buraco na barriga, não dá pra negá-la cuidado. Quando ninguém aparece para buscá-la, mesmo com cartazes espalhados pelo bairro, não dá para não tomá-la como sua. Mas quando percebe-se que depois daquele primeiro dia ela nunca mais tentou fugir quando o portão se abre, não dá para negar que você não teve nada a ver com a escolha de ficar com ela. Ela foi feita para estar com você desde o início.
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3. Depois de um tempo, fiquei atenta aos sinais que a vida dá. Quando algo é para ser, flui. Quando os imprevistos se empilham para dificultar algo de acontecer, meus olhos já estão mais atentos. Da mesma forma que estão atentos quando, com duas mensagens, todas as pessoas de um grupo tem disponibilidade para se encontrar na semana seguinte.
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4. Sonhei com o momento do encontro com leveza. Vai que acontece?! Se não acontecer, tudo bem também. Por precaução, deixei o presente na bolsa todo o final de semana. E se, por acaso, eu a ver na rua? Não é impossível de acontecer. Não aconteceu, mas arquitetei um plano para presenteá-la no fim do show. Enfrentei um engarrafamento entre as fileiras do teatro e não consegui chegar ao palco. E tá tudo bem, era só uma possibilidade. Senti um nó na garganta e o expulsei dali. É que a gente torceu tanto por isso. Eu sei, mas nunca houve garantia de nada.
Passou-se uma semana, e o engarrafamento agora era no portão 18 do aeroporto. O portão 12 estava tão mais vazio, por que mandaram a gente pra cá? eu penso. Encontro uma cadeira vazia e me acomodo ali. Olho para o portão 17 e sinto uma cosquinha de inveja das pessoas na fila tão vazia, tão contrastante com a minha. Então vejo o cabelo loiro que procurei incessantemente pela rua a uma semana atrás, e entendo porque trocaram o portão 12 pelo 18.
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5. Desde que entendi que a vida acontece no tempo dela, sigo pra onde ela apontar.
o que floriu por aqui 🌼
O que aconteceu de bom ou de novo aqui no meu quintal.
O carnaval sem chuva, os dias de descanso, as memórias felizes que criei com quem eu amo.
o que secou por aqui 🥀
Eu sou zero a favor da ideia de vida perfeita que muitas vezes temos na internet. Então essa seção é para falar de coisas não tão floridas que aconteceram, pois afinal de contas elas também fazem parte da vida, né?
O fim do feriado doeu, pra variar. Também peguei um livro pra ler que acho que vou largar antes mesmo de chegar na metade. Não vou citar qual é para não virem me encher o saco.
a propósito, eu sou a Clara
e eu acredito fortemente que as coisas acontecem como e quando devem acontecer. Depois que a vida me levou pro portão 18 e eu entendi o porquê, eu vou pra onde ela apontar.
“Entre suspiros (de amor e limão)” é meu primeiro livro e está disponível na Amazon. Se você gosta de comédias românticas, ou se está em busca de uma história levinha para preencher seus momentos de descanso, esse livro é pra você!
Daqui a 15 dias tem mais, mas se quiser continuar lendo…
Essa foi uma das edições mais gostosas de ler na sua newsletter, Clarinha! Cada short story mexeu comigo de um jeito potente e único. E to curiosa - quem era a loira, afinal?