Eu me mudei de escola quando tinha 9 anos. Foi quando meu mundo aumentou pela primeira vez.
Eu sai de um apartamento e uma escolinha de bairro, onde eu era amiguinha de todas as meninas da turma, para uma casa em outra cidade e uma escola que fazia parte de uma rede. Lembro até hoje da primeira vez que entrei no ginásio do colégio e pensei como era a maior quadra que eu já tinha visto. Minha recepção na escola foi tão fria quanto o ginásio vazio quando o vi pela primeira vez.
Eu não fiz amigos de cara, muito pelo contrário. Crianças são malvadas, e como eu era a única novata da turma, elas decidiram que seriam malvadas comigo. O tempo passou, as intrigas se dissolveram, eventualmente me tornei amiga das meninas que antes me ignoravam, mas uma coisa ficou marcada em mim por muito tempo, até depois que saí daquela escola: um sentimento de não pertencer àquele lugar.
E não se sentir pertencente quando, na prática, você está envolvida em tudo, é um prato cheio para a terapia. Eu era amiga das pessoas, eu participava dos eventos (vou desconsiderar às vezes eu não era convidada…….), mas mesmo assim eu me sentia como “a estranha”. Mas eu queria tanto, tanto fazer parte daquilo, que eu fui me encaixando e me dobrando até caber. Mas se encolher para caber em uma caixa não é nada confortável.
O ensino fundamental não foi a primeira vez que não me senti pertencente em algum lugar, grupo ou relacionamento. Esse sentimento tem me seguido há muitos anos e aparece nas mais variadas situações.
Não sei se isso é algo que se dissolve com o tempo, se deixamos de dar atenção a isso conforme ficamos mais velhos, se é possível se sentir confortável e pertencente em todos os ambientes e grupos que você frequenta. Na minha vida essa ideia soa um pouco utópica.
Mas tem algo que, depois de 20 e tantos anos eu entendi, e que pode parecer óbvio mas não é. Eu não preciso tentar me fazer caber em uma caixa por medo de não encontrar outro lugar para mim no mundo. Não preciso ficar em um lugar que me causa desconforto, não preciso fazer sala se o outro claramente não me quer ali, não preciso inventar desculpas para me convencer de que aquele grupo tem espaço pra mim. O mundo é grande o suficiente para que haja uma caixa onde eu possa esticar minhas pernas. E só porque ela não está no meu campo de visão, não quer dizer que ela não exista.
Um dos versos de música que mais me pegou e que mais volta na minha mente no dia a dia é um do Dominic Fike, que diz “Coulda told her, maybe if you feel out of place, it's because you are” / “Poderia ter dito a ela, talvez se você se sente deslocada, é porque você está”. Queria que ele tivesse me contado isso mais cedo.
PS: o nome da música do Dominic Fike, a quem interessar, é “Double Negative (Skeleton Milkshake)”
o que floriu por aqui 🌼
O que aconteceu de bom ou de novo aqui no meu quintal.
O meu novo cabelinho rosa e a percepção de que escrevi mais no meu diário esse ano do que no ano passado inteiro. Esse era um hábito que eu queria retomar a anos, e só precisou de um puxão de orelha da minha psicóloga e a descoberta de um nicho no tiktok pra coisa engatar de vez.
o que secou por aqui 🥀
Eu sou zero a favor da ideia de vida perfeita que muitas vezes temos na internet. Então essa seção é para falar de coisas não tão floridas que aconteceram, pois afinal de contas elas também fazem parte da vida, né?
O bloqueio criativo veio como uma tsunami, e eu ainda não consegui voltar a superfície. Também está fazendo 1 ano da minha viagem para Los Angeles e eu estou muito um pouco nostálgica.
a propósito, eu sou a Clara
e eu acho que sempre vou me sentir um pouquinho diferente dos outros, até porque ninguém é igual a ninguém. Mas já aprendi que é uma linha tênue entre isso e o desconforto, e que eu não preciso, nem devo, me forçar a desconforto nenhum na tentativa de me encaixar em algum lugar.
“Entre suspiros (de amor e limão)” é meu primeiro livro e está disponível na Amazon. Se você gosta de comédias românticas, ou se está em busca de uma história levinha para preencher seus momentos de descanso, esse livro é pra você!
Daqui a 15 dias tem mais, mas se quiser continuar lendo…