Tem três meses que eu me mudei para um apartamento depois de (abre a calculadora do celular) 17 anos morando em uma casa. Além dos estranhamentos e mudanças na rotina já previstos, uma coisa inesperada começou a acontecer comigo. Eu desenvolvi uma curiosidade danada sobre meus vizinhos.
Não me refiro aos meus vizinhos de prédio. Na realidade, sendo a pessoa tímida que sou, quanto menos eu me encontro com eles nas áreas comuns do prédio, melhor. Tô falando dos vizinhos do prédio ao lado, a vista de quase todas as janelas do meu apartamento.
Tudo começou quando eu percebi que eu consigo ouvir super bem um dos apartamentos do prédio ao lado, e não é nem o apartamento que fica de frente para o meu. Nele, uma xará minha que deve ter uns 3 anos apronta o dia inteiro, rendendo boas broncas da mãe e da babá. Clarinha e seu irmão, Joaquim, me divertem com suas confusões, e as broncas da mãe deixam meu coração apertadinho.
Ainda no prédio ao lado, agora no andar de baixo e na direção do meu apartamento, suspeito que more uma costureira. A janela da área de serviço dela está constantemente cheia de saias de festa junina, já espiei um carretel de linha e vi, pela greta da cortina aberta, uma arara de vestidos pendurados no quarto. Eu queria que ela abrisse a janela para eu admirar as criações dela melhor.
E no apartamento logo em frente ao meu, dois extremos: uma janela da área de serviço que vive aberta, e a janela do quarto do que eu suspeito ser um adolescente, sempre fechada. Observo a área de serviço com uma cosquinha de inveja, tão grande em relação à minha. Dependendo de onde eu olho, consigo vislumbrar a geladeira deles, na cozinha, mas de repente a vontade é de ver a casa inteira. Qual será a cor do sofá deles? A mãe parece gostar de plantas, já a ouvi gritando pro filho para tomar cuidado com a orquídea dela.
De repente me torno consciente de tanta vida e gente ao meu redor, e talvez seja só o estranhamento de voltar a morar em uma cidade grande depois de tantos anos. Tem dia que é demais ouvir tanta gente falando ou a sensação de me verem dentro de casa. Aí eu saio, dou uma volta, sinto um ventinho no rosto, e volto. Ou então espero até a Clara receber um xingo por um motivo especialmente ridículo e me divertir.
o que floriu por aqui 🌼
O que aconteceu de bom ou de novo aqui no meu quintal.
Pela primeira vez eu acho que consegui adiantar toda a comida da semana, como uma marmiteira que sou. Ninguém precisa saber, por outro lado, que estou assando uma pizza congelada para comer no domingo à noite.
o que secou por aqui 🥀
Eu sou zero a favor da ideia de vida perfeita que muitas vezes temos na internet. Então essa seção é para falar de coisas não tão floridas que aconteceram, pois afinal de contas elas também fazem parte da vida, né?
Uma chuva forte deu um susto em mim e minha mãe, a distância, e meu trabalho segue sugando minhas energias. Ainda não consegui recuperar o ritmo de escrita que eu quero, e venho tentando outras abordagens por aqui.
a propósito, eu sou a Clara
e sei que é contraditório ter curiosidade dos meus vizinhos ao mesmo tempo que me incomodo com a possibilidade deles me verem dentro de casa, mas fazer o que, o ser humano é um bichinho contraditório mesmo.
“Entre suspiros (de amor e limão)” é meu primeiro livro e está disponível na Amazon. Se você gosta de comédias românticas, ou se está em busca de uma história levinha para preencher seus momentos de descanso, esse livro é pra você!
Daqui a uns 15 dias tem mais, mas se quiser continuar lendo…